O Federal Reserve, o banco central dos EUA, continua aumentando a taxa de juros. Isto deve provocar mais instabilidade no sistema bancário mundial. As circunstâncias que levaram a quebra do SVB e do Credit Suisse devem ser replicadas em todos os lugares. Provavelmente, as autoridades monetárias globais devem estar monitorando a situação de instabilidade financeira por conta do estouro em slow motion da bolha financeira produzida pela mesmas politicas do Federal Reserve na década passada. Não é possível que eles não tenham aprendido nada com 2008. Mas é possivel sim. O problema é - como sempre - o modo capitalista de enfrentar as coisas. Erram todas - mas quem paga as contas, é a sociedade.
Assim, uma coisa é certa: mais dinheiro público deve ser utilizado para salvar bancos. É isso que dá tranquilidade àqueles que estão operando a alta das taxas de juros visando conter o surto inflacionário – como se a inflação fosse um problema de demanda.
O risco é o ambiente da economia global em 2023 tornar-se um versão pocket da estagflação – estagnação com inflação – da década de 1970. Para os banqueiros tudo, mas para os sistemas de saúde e de seguridade social, nada! Pelo contrário, a saúde pública vive uma crise profunda por conta da pandemia – que não acabou - e as sociedades capitalistas mais desenvolvidas, vivem uma crise social que se exacerba por conta dos baixos salários e inflação.
Nada de novo no front: o capitalismo neoliberal continua a todo vapor rumo ao abismo! (roubei o titulo desta postagem do livro de Robert Kurz intitulado “Com todo vapor ao colapso” (Editora UFJF/Pazulin) - isso em 2004, quase 10 anos... ) Enfim, há pelo menos trinta anos, o capitalismo neoliberal opera um profundo rebaixamento civilizatório calibrado por uma exacerbada manipulação social midiática nunca antes vista na história das sociedade humanas.
Primeiro, nos amarraram com smartphones e tablets. Depois, introduziram plataformas nas telas digitais 4K, fascinando a todos com as redes sociais, movidos a algoritmos e Inteligencia Artificial. Virtualizaram a sociabilidade, a intimidade e inclusive, o trabalho - e o próximo passo, é o Metaverso....Mas a história bate à nossa porta. Eppur si muove!
Todas as áreas do sistema financeiro, a força dominante da economia capitalista neoliberal, tornaram-se tão dependentes da entrada de dinheiro barato que agora estão sendo fortemente impactadas pelos aumentos das taxas de juros, cujos efeitos apenas começaram a se fazer sentir.
O Federal Reserve dos EUA está fazendo uma operação de alto risco para uma economia capitalista – empresas e consumo das massas - viciada em crédito fácil.
No coração do sistema do capitalismo neoliberal está o capital financeiro, a forma de ser do capital produtivo senilizado pelo declino histórico da lucratividade (para compensar, temos a hipertrofia da esfera financeira). Dá-lhe especulação com ativos os mais diversos e criptomoedas!
O crescimento medíocre do PIB e a baixa taxa de investimentos no centro dinâmico do capitalismo neoliberal; e a queda da produtividade do trabalho e a crise social crônica por conta do aumento da desigualdade social e da concentração de renda; e ainda a perspectiva da "estagnação secular" (como vaticinava a The Economist em 2015!), são problemas estruturais que os administradores da ordem decrépita do capital tentam ocultar por meio da intensa manipulação midiática; ou incapazes de resolver, deslocar por meio de guerras...
À primeira vista, o capital financeiro parece ser capaz de fazer frutificar quantias cada vez maiores de dinheiro a partir do próprio dinheiro. É o velho ilusionismo exacerbado pela proêminencia da economia monetária no século XXI.
Mas essa forma-aparência mascara uma realidade mais profunda: o capital financeiro não cria valor adicional ou mais-valor. Em última análise, ele reivindica o mais-valor extraído da classe trabalhadora no processo de produção capitalista (por isso, capital financeiro e superexploração do trabalho tem tudo a ver !).
O capital financeiro opera a mistificação do fazer mais dinheiro a partir do próprio dinheiro tendo como fundamento real a exploração (e a superexploração) do trabalho. Assim, o capital financeiro busca continuamente habitar o reino delirantes das finanças todo-poderosas, onde dinheiro gera mais dinheiro; mas ao mesmo tempo, se esforça para intensificar a exploração da classe trabalhadora, sobretudo em tempos de crise, como temos visto desde 2008 - hoje, só vemos a repetição do mesmo.
A mais-valia não acabou. Pelo contrário, sua exacerbação - na forma absoluta ou na forma relativa ou combinadas - tornou-se hoje, o lastro dos delírios perversos do capital financeiro.
Impulsionado pelo aprofundamento da crise da economia (o resgate de bancos) e pela guerra (os gastos com armamentos), os governos do Estado capitalista devem fazer a classe trabalhadora pagar por meio de cortes maciços nos gastos sociais.
O trágico é que isso ocorra nas condições históricas de exacerbação das contradiçoes metabólicas do capital - a crise ecológica, crise sanitária e crise demográfica devem exigir cada vez mais, menos mercado e mais Estado e gastos sociais!
Ao lado do capital financeiro, entra em cena outro personagem do Titanic capitalista: o Estado neoliberal, bonapartista na intenção política, cínico na idealidade democrática, pura farsa de Direitos Humanas, Liberdade e Joe Biden!
O programa da classe dominante é fazer operações de resgate para a oligarquia financeira combinadas com gastos de guerra e de manipulação exacerbada da vida social. Eis o que nos espera nos próximos anos e décadas de capitalismo senilizado – não apenas devido as contradições fundamentais estruturadas pela crise de lucratividade, mas pelas contradições metabólicas - reiteremos mais uma vez - que expõem mais d que nunca, a “fratura metabólica” entre o capital e a Natureza por conta da crise ecológica, crise sanitária e crise demográfica.
Uma "tempestade perfeita" para o aprofundamento da crise de civilização!
Mas não se preocupem, pois a manipulação midiática vai nos fazer acreditar no contrário: vivemos no melhor dos mundos possíveis!
Como existe a luta de classes, irremediavelmente a classe trabalhadora deve sofrer mais ainda por conta disso tudo.
Caso as representações políticas e sindicais da classe trabalhadora continuem pensando com a cabeça de seus algozes, os trabalhadores e trabalhadoras sofrerão mais ainda, alimentando as forças da extrema-direita à espreita face o afundamento da democracia liberal.
Mas não nos esqueçamos: a crise é um modo de reprodução (irracional) do sistema capitalista. Faz faz parte da natureza do sistema. O capitalismo se fortalece a cada crise. Caso a classe trabalhadora não enfrente o sistema capitalista, ele continuará moendo a subjetividade do trabalho vivo e fabricando dia-adia, o sociometabolismo da barbárie que nos deprime.
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