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Pandemia da Covid-19 (ou a Arte da Desinformação)




Este é um dos posts mais difíceis do blog pois se trata de um tema-tabu complexo e nebuloso que enfrenta preconceitos sociais, restrições político-ideológicas e dificuldades de dados objetivos sobre o que está de fato, acontecendo na sociedade brasileira – e mundial.


Além disso, a desinformação foi bem-sucedida em fazer as pessoas não levarem em consideração, os riscos da infecção (e reinfecção) pela covid-19. Como a consciência ingênua só consegue atentar-se para a imediaticidade, nada pode ser feito efetivamente para sensibilizar as pessoas sobre os riscos ocultos da exposição silenciosa à covid-19 – pois é disso que se trata.


Em 1989, o filósofo István Mészáros no livro “O poder da ideologia”, fez referência ao “desconcertante processo da prática de confundir que caracteriza o capital enquanto força controladora do intercâmbio e da reprodução social”.


A pandemia do novo coronavírus desde 2020, tem sido objeto do “desconcertante processo da prática de confundir”. Estamos há 3 anos imersos em práticas de manipular, confundir e desinformar sobre o que de fato está ocorrendo com a saúde pública no Brasil – e no mundo. É um fato inédito na história mundial, embora saibamos que o Estado capitalista tem muita dificuldade de lidar com informações sobre guerras e doenças que possam perturbar a ordem dominante ou a circulação do capital global e a reprodução social.

A pandemia da forma como foi administrada pelos Estados capitalistas, abriu a “Caixa de Pandora”, deixou que o novo coronavírus evoluisse de um modo, que não há como voltar a uma posição anterior. Entramos num terreno do desconhecido pois a virologia ainda tenta entender a natureza das subvariantes da covid-19 e desvendar os verdadeiros riscos de conviver com um vírus que tem sofrido mutações contínuas.


A política adotada pelos Estados capitalistas oculta para a maioria da população mundial, os verdadeiros riscos da Covid-19 – mas os bilionários do Fórum Social Mundial sabem disso. Reuniram-se em Davos com todas as proteções sanitários (máscaras e filtros de ar) – não apenas com as vacinas bivalentes de última geração.


A primeira desinformação foi não esclarecer o que é uma pandemia.


Faltou um amplo esclarecimento público sobre o que significa uma “pandemia. Mas, não se trata de falta de esclarecimento. Eu diria que se tratou do projeto político de confundir as massas para manipulá-las visando a conformação com a ordem da normalidade social baseada na circulação do dinheiro e das mercadorias. É o poder “natural” das coisas inscrito nas relações sociais fetichizadas do capital. A “normalidade” é a força social mais poderosa que existe. Ir contra ela é correr o risco de ser enquadrado como “louco”.


Mas, o que é uma pandemia?


Pandemia é a disseminação mundial de uma nova doença ou surto epidêmico que afeta não apenas uma região, mas se espalha por diferentes continentes com transmissão sustentada de pessoa para pessoa. Isto é o caso da covid-19 que ainda afeta regiões, países e continentes.


O que houve foi uma decisão política articulada globalmente, que proclamou na metade do ano de 2022 que a pandemia acabou. Em 22 de maio de 2022, o governo Bolsonaro anunciou o fim do estado de Emergência em Saúde Pública de Importância Nacional (Espin), decretado em função da pandemia no Brasil. Desmantelaram-se protocolos sanitários sendo o principal deles, o uso de máscaras. Aproximando-se das eleições de 2022, midia e instituições sociais decretaram o fim da pandemia. Logo deixou de lado inclusive campanhas de vacinação. Apesar disso, o vírus continuou se espalhando por vários continentes, países e regiões - nem mesmo a China na época da política de Covid Zero (20220-2022) conseguiu conte-lo absolutamente – porque a pandemia é um fenômeno global. Pelo contrário, face às pressões da guerra híbrida dos EUA, o Estado chinês desistiu de controlar sózinho o incontrolável. Desistiu da política de Covid Zero e adotou a política da prevenção sanitária (usos de mascara, vacinações e tratamentos médicos para a população).


A segunda desinformação foi não esclarecer o que são as vacinas.


Foi de fato, um notável feito científico produzir as vacinas em tão pouco tempo. Para isso investiu-se milhões e milhões de dólares (e as big farms lucraram bilhões e bilhões de dólares!). Foram desenvolvidas vacinas que aplicadas no decorrer de 2021 e 2022, evitaram o agravo da doença. Isso não se discute.


Mas – eis a questão: as vacinas não impediram que as pessoas se contaminem com a covid-19 - isto o Ministério da Saúde não adverte. Utilizaram-se as vacinas como recurso político de "normalização social", quando elas poderiam ter sido utilizadas como recurso complementar de proteção sanitária ao lado do uso de máscaras e do impedimento de aglomerações visando conter – pelo menos - a transmissibilidade do vírus. Foi insensato e irresponsável - quase criminoso - deixa-lo evoluir como ele evoluiu nos últimos anos.


Mas as vacinas foram apresentadas pela midia e pelo governo do Brasil como sendo... o verdadeiro “milagre” contra a pandemia. É claro que a maioria dos brasileiros não recusaram vacinar-se. Apesar do “descaso” do governo Bolsonaro, o percentual de vacinados foi elevado – mais do que, em termos relativos, nos EUA onde as vacinas tiveram resistência de parcela da população por conta do movimento anti-vacina.


Entretanto, não se esclareceu o que é uma vacina - seus alcances e limites. A midia "vendeu" elas como sendo a solução para a covid-19. É claro que as vacinas tem eficácia. Elas evitam o agravo da doença, mas não impedem que uma pessoa vacinada, caso não tenha proteção com mascaras, se infecte ou se re-infecte. Embora o número de óbitos tenha se reduzido em termos relativos, muitos milhares de pessoas continuaram adoecendo e sendo hospitalizadas por covid-19, e ficando com sequelas (Covid longa).


A terceira desinformação foi não dizer o que é o vírus da Covid-19.


O novo coronavírus sofreu mutações na medida em que foi "incentivado" a circular globalmente, fazendo surgir (no acelerado processo evolutivo), novas cepas e subvariantes; e inclusive, cepas recombinantes (como por exemplo, a variante XBB 1.5 ou a XBF que evadem das vacinas de primeira geração. A XBB 1.5 ainda não é dominante na medida em que a circulação das subvariantes ocorre como ondas, variando de região para região e de país para país. O movimento das ondas é desigual, o que explica o fato de que, enquanto num país domina a subvariante BA.1 ou BA.2, noutro domina BA.4, BA.5 ou BQ.1 - todas subavarientes da Omicron.


Em dezembro de 2022, outra variante - XBB.1.5, conhecida como Kraken, - varreu o nordeste dos Estados Unidos. A Organização Mundial da Saúde (OMS) considerou o XBB.1.5 a versão mais transmissível da variante Omicron até o momento. O virus se aperfeiçoou mais ainda - essa subvariante tem muito escape imunológico, o que praticamente faz com que as vacinas aplicadas até o momento percam seus efeitos. Isto significa que, caso a XBB 1.5 se torne dominante, teremos mais doenças, hospitalizações e mortes, o que pode sobrecarregar os sistemas de saúde e aumentar as taxas de Covid Longa.


A política de conviver com a covid-19 fez com que cheguemos a esse ponto: combinações de mutações. Estamos num novo patamar da pandemia - o contrário do que diz o senso comum. A recombinação virótica pode acontecer quando uma pessoa é infectada simultaneamente com duas variantes do vírus. Mas em 23 de janeiro de 2023, a XBB 1.5 ainda não é dominante. Foi encontrada em 38 países, segundo a OMS . Isso inclui Coreia do Sul , Austrália e nações da Europa, onde representou menos de 2,5% da proporção de casos durante as duas últimas semanas de 2022, disse o Centro Europeu de Controle e Prevenção de Doenças. Uma outra variante recombinante que surgiu foi a XBF. A questão é verificar se tais recombinantes vão se tornar as variantes de SARSCoV2 dominantes nas populações dos países - eis o risco para qual as populações não sendo alertadas pelos governos.


Assim, depois de tres anos de pandemia, a política capitalista de conviver com a covid-19 fez com que o planeta Terra se tornasse o Planeta SARSCoV-2. O rastreamento do virus da Covid-19 nos EUA em dezembro de 2022 produziu o quadro abaixo: o "enxame de subvariantes do SARSCoV2.





Na fase atual de evolução da pandemia, a letalidade não tem sido - até agora - a característica marcante da linhagem ômicron em comparação com as linhagens originárias. Nada podemos falar, por exemplo, da XBB 1.5 ou XBF.. As linhagens ômicron sido vitoriosas no processo evolutivo do virus. O que tem se destacado é a alta transmissibilidade da linhagens ômicron. Na medida em que aumento bastante a circulação das pessoas a partir de 2022, por conta da queda das restrições sanitárias com as vacinações, o virus do SARS-CoV2 recuperou a velocidade de infecções da cepa original do coronavírus que se espalhou no início da pandemia.


Em fins de 2021, o sucesso da ômicron foi driblar a imunidade criada pelas primeiras doses das vacinas, isto é, os anticorpos e outras defesas imunológicas colocadas pelo corpo após a vacinação de primeira geração. As mutações da subvariante na proteína spike permitiram que a linhagem ômicron infectasse células humanas com mais eficiência do que as variantes anteriores, deixando muito mais pessoas novamente vulneráveis - mas sem o grau de letalidade das cepas originárias. Com a omicron, a "fuga imune" por si só pode ser a principal razão pela qual a variante parece tão contagiosa em comparação com a delta, que já era altamente transmissível. Parece que o "objetivo" do SARS-Cov2 é infectar o organismo humano, debilitar os mais saudáveis, fazer adoecer os vulneráveis e matar os mais fracos. É um processo silencioso que faz com que a nova etapa da pandemia torna-se bastante adequado a uma espécie de "eugenia social" produzida pelo capital.


O que e coloca é: devemos temer a infecção pelo SARS-CoV-2? ou ela é apenas uma uma “gripinha”?. Podemos deixa-lo circular livremente tal como ocorre hoje, despreocupando-e com a saúde pública?


A discussão sobre os efeitos da infecção e re-infecções pela covid-19, é um debate importante de saúde pública. Ele tem sido feito de modo marginal. A midia tem colaborado com a minimização dos efeitos da Covid-19 no organismo humano. Mas o que tem se verificado é que não se trata apenas de uma "gripinha". As reinfecções aumentam o risco de covid longa e de óbitos por conta de problemas cardiorespiratórios (morte súbita), neurológicos (AVC´s), e inclusive câncer (o que se verifica hoje - de forma silenciosa, a mídia oculta e or profissionais de saúde despreparados, não fazem - ou evitam fazer - o nexo causal entre as doenças que levaram a óbito e a covid-19). A desinformação sistêmica sobre o que é o vírus da covid-19, e os riscos que as pessoas correm ao serem expostas , caso não se protejam com máscaras, é um sério problema de saúde pública no presente – e no futuro.


A desinformação sistêmica inclui o apagão de dados sobre infecções e reinfecções, adoecimentos e hospitalizações; e inclusive óbitos (ocultos e subnotificados). Isso sem falar na legião dos ditos “recuperados” que nunca se recuperaram (a dita Covid Longa). No caso do Brasil, a subnotificação em saúde pública tem uma larga tradição histórica - não importa se o governo é de direita ou esquerda. Inclusive, subnotifica-se casos de sequelas deixadas pela covid-19, a legião dos ditos “recuperados” que nunca se recuperaram (a dita Covid Longa).


No Brasil, não temos testes de controle viral, deixados a cargo de testes em farmácias por conta das pessoas). Não temos rastreamento das mutações viróticas, deixados a cargo de iniciativas isoladas de pesquisadores. Falta uma política de Estado de saúde pública. Numa época de pandemia, é um "crime de responsabilidade sanitária".


Ao mesmo tempo, o Estado brasileiro incentiva o abandono dos protocolos sanitários - no nivel federal, estadual e municipal. A política de saúde pública adotada hoje pelo Ministério da Saúde sob o governo Lula reduz-se à Campanha de Vacinação...e isso após o Carnaval de 2023. Até o momento, nenhuma sinalização de que o governo vá fazer - pelo menos - uma campanha de educação sanitária pública sobre o risco da contaminação pela covid-19. No país da ignorancia estrutural, isso é um "crime de responsabilidade sanitária".


Por fim, existe um agravante no processo de desinformação sistêmica sobre a pandemia da covid-19: o fator cultural. No Ocidente, décadas de capitalismo global fizeram triunfar a cultural liberal hedonista e o culto da “normalidade” fetichizada do consumo. A preservação férrea da Ordem é um valor sagrado. É o gozo supremo do fetichismo da mercadoria.


Mas, fica a questão: por que temos tanta dificuldade em utilizar máscara de proteção sanitária?


Existe uma questão semiótica: as máscaras nos dizem que a Ordem sagrada da normalidade social está sob ameaça. Elas nos faz lembrar aquilo que o Estado neoliberal precisa ocultar: a incompatibilidade entre o Capital e a Natureza na fase atual de desenvolvimento civilizatório. Para as pessoas, a máscara faz lembrar que a (possível) Morte está à espreita. O medo é o afeto mais paralisante da alma humana. No país da Ignorância estrutural, isto é o Terror.


A pandemia tem sido um experimento de psicologia social a céu aberto. Ela deu plena (e terrível) visibilidade ao apego extremo que as pessoas tem à situação de "normalidade social", enfim, à Ordem burguesa face a situação catastrófica da pandemia. Mas existe um recirte de clase social: os pobres negam a pandemia porque precisam sobreviver; a “classe média” nega a pandemia por amor à ordem burguesa.


O fato político contundente é o desamparo histórico das populações proletárias pelo Estado oligárquico neoliberal no Brasil que opera há séculos, a produção da ignorância das massas por meio da disseminação da consciência ingênua em detrimento da consciência crítica. Isso explica o processo de desinformação sistemática e manipulação dos meios de comunicação de massa.


A midia pauta os assuntos que discutimos no dia-a-dia. A ideologia da positividade domina. A manipulação trabalha a matéria social secularmente produzida pelo complexo de instituições sociais reprodutoras da normal positividade social. É num momento de catástrofe social que se explicita o consórcio da Ordem social: meios de comunicação de massa, igrejas, sindicatos, partidos (de direita ou de esquerda), universidades, etc.. Confirma-se a lei histórica: as ideologia dominante é a ideologia da classe dominante. Interessa à classe burguesa o Lucro e não com a Saúde Pública.


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