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O que é o Hipnocapitalismo



Eu criei mais uma denominação: o Hipnocapitalismo.


Mas o que significa o "Hipnocapitalismo"?


Em que medida o conceito de Hipnocapitalismo contribui para entendermos o nosso tempo histórico?


Em primeiro lugar, como cheguei a tal conceito?


O conceito originou-se no ensaio a a ser publicado na Revista “Trabalho Necessário”, da Universidade Federal Fluminense intitulado “O triunfo de Tanatos: Hipnocapitalismo e sociometabolismo da barbárie”. Ele originou-se de uma reflexão sobre o sociometabolismo da barbárie.


Inspirado na mitologia grega e nas reflexões metapsicológicas de Sigmund Freud, intitulei a vigência da barbárie social como sendo o "triunfo de Tânatos", o deus da morte.


Na mitologia grega, Tânato (ou Thanatos) é a personificação da morte, tendo como irmão gêmeo... Hipno, o deus do sono.


O que tem a ver a morte e o sono? Na verdade, eles representam os dois estados de repouso que afetam os seres vivos: a morte e o sono. Tal como a morte, o sono nos mantém em estado de repouso.


Hipnocapitalismo é o "capitalismo do sono", metáfora do adormecimento da consciência crítica incapaz de despertar a luta (e a consciência) de classe.


Na era da barbárie social, estamos adormecidos na nossa capacidade de enfrentarmos efetivamente os dispositivos estranhados do capital.


As figuras da mitologia grega servem para refletirmos sobre a condição humana sob o tempo histórico do capital.

De acordo com a mitologia, Tânatos era filho da deusa Nix, a personificação da noite, e – como vimos - irmão gêmeo de Hipnos, o deus do sono. Assim, a era de Tânatos é também a era de Hipnos, seu irmão gêmeo. É a era do "capitalismo noturno", o capitalismo do crepúsculo do processo civilizatório.


O sociometabolismo da barbárie é indissociável da manipulação exacerbada do capital que faz adormecer a consciência critica ou a consciência de classe capaz de negar o statu quo. Esta é a grande contribuição do conceito de Hipnocapitalismo: vincular barbárie social e manipulação do capital.


Na mitologia grega, Hipno vive no submundo, em um palácio sombrio e silencioso, situado numa caverna profunda, onde a luz do sol e a lua nunca alcançam. A entrada da caverna é cercada por papoulas e outras plantas que induzem o sono. Ao seu redor, sopram ventos suaves que trazem o sono para os mortais.


Como traduzimos isto para o nosso tempo histórico?


O submundo do capitalismo neoliberal é caracterizado pelo sombrio particularismo das individualidades humanas ensimesmadas. O mundo da precariedade do trabalho vivo é o “mundo da Caverna” – figura alegórica utilizada também por Platão. As personalidades ensimesmadas vivem na caverna, incapazes de perceberem a luz da verdadeira natureza do Real. Na era da bárbarie social as pessoas vivem nas sombras.


O mundo do hipnocapitalismo é o mundo do "império da dor" que exige drogas capazes de entorpecer a mente e o corpo para se possa enfrentar a alienação do dia-a-dia: drogas químicas, drogas religiosas, drogas políticas e drogas ideológicas.


A ideologia da positividade e do neoconformismo social (o politicamente correto) ou a ideologia do particularismo (ou identitarismo), funcionam como "ventos suaves" que trazem o sono para os mortais proletarizados.


Um detalhe: “A Caverna” é o título de um romance de Jose Saramago a partir do qual analisamos a condição de proletariedade (vide o blog "Literatura e Critica Social").


Na mitologia grega, Hipno é frequentemente retratado como um jovem com asas em sua testa ou em suas costas, simbolizando sua capacidade de voar rapidamente e silenciosamente através do mundo dos mortais, espalhando o sono com um toque suave de sua varinha mágica ou derramando água do rio Lete sobre os olhos dos mortais.


O Hipnocapitalismo é o “capitalismo alado”, o capitalismo impulsionado às alturas pela revolução digital-informacional cujos suaves artifícios tecnológicos com telas de alta resolução 4K, tal como uma "varinha mágica", instigam paixões por meio de imagens, fazendo adormecer a reflexão e a consciência crítica dos mortais.


Portanto, a sociedade neoliberal configura-se como sendo a "sociedade de Hipno", ou seja, o mundo social em que o poder da Ideologia adormeceu a consciência crítica e invalidou a oposição de classe.

A "sociedade de Hipno" é o mundo social da mais-manipulação ou da manipulação exacerbada que decorre do fato histórico de que vivemos na era da crise estrutural do capital.


Na época histórica da crise estrutral do capital, o sistema do Lucro expõe seus limites internos absolutos, ativando à exaustão, o poder da reificação e do fetichismo social. O sistema do capital precisa exacerbar a manipulação para que possa operar a sua auto-reprodução destrutiva.


A manutenção funcional do capitalismo em sua etapa de crise estrutural do capital, tem como seu elemento axial, a "reificação" (ou coisificação) – o que explica a resistência histórica do sistema capitalista, cuja falência histórica a crítica teórica vem anunciando há muito.


Com a crise estrutural do capital, a coisificação e o fetichismo se exacerbam em termos diretamente proporcionais à manifestação da crise e suas contradições (o que explica, portanto, a mais-manipulação e o esforço para “adormecer” a consciência crítica).


O conceito de Hipnocapitalismo salienta a importância da crítica da economia psíquica do capital adequada à época histórica de sua crise estrutural, quando a manipulação extra explícita o modo específico de operação qualitativamente novo dos elementos axiais de reprodução sistêmica (reificação, coisificação e fetichismo).


No artigo a ser publicado na revista "Trabalho Necessário", apresentamos elementos teórico-críticos para caracterizar o sociometabolismo da barbárie no século XXI, promovendo um diálogo possível entre marxismo e psicanálise, visando desvendar os fundamentos ontológicos da barbárie social.


A hipótese que expomos é que a barbárie social é uma forma de subjetivação humana organizada a partir do "ensimesmamento" ou do particularismo enquanto expressões superiores da coisificação e do fetichismo social.


A sociedade da barbárie social caracteriza-se pela concorrência exacerbada, pelo predomínio do "narcisismo da pequena diferença" e pelas formas de ultraviolência social, tais como, por exemplo, o assédio moral e as microviolências do dia-a-dia .


Além de ser uma forma de subjetivação humana alienada, o sociometabolismo da barbárie é também um modo de organização pulsional dos sujeitos humanos, em que as tecnologias digitais e informacionais desempenham papel fundamental na organização da produção e reprodução social.


O Estado político do capital na forma do Estado neoliberal opera a barbárie social, a partir do qual se constitui a nova hegemonia do capital, resultante da subjetivação neoliberal. Esta implica um novo posicionamento do sujeito diante da contradição entre a "aparência" e a "essência" do modo de produção capitalista.


No artigo, a partir da teoria do estranhamento em Gyorgy Lukács e da teoria da coisificação e do fetichismo de Marx, abordamos o modo de produção da subjetivação da barbárie social. Isso significa, por exemplo, tratar o sociometabolismo da barbárie como sendo o processo social de deformação do indivíduo, fechado em sua autossuficiência, que aceita a imediaticidade de sua condição imposta pelo status quo social, sem veleidades de "transcendência" e sem verdadeira aspiração à autodeterminação.


Segundo Lukács, o individuo da bárbarie social é o "indivíduo no estado de particularidade".


Na era da barbárie social, a individualidade humana está fetichizada em um patamar histórico superior devido à profunda debilitação da consciência de classe. É o Hipnocapitalismo que representa o triunfo de Tanatos ou a pulsão de Morte (Freud).


Portanto, o sociometabolismo da barbárie representa o regime sócio-histórico do novo conformismo moral do sujeito humano, a partir do qual se organizam suas percepções, valores, atitudes e comportamentos.


Qual a tarefa histórica da emancipação social? Despertar as pessoas do sono profundo produzido pela manipulação do capital, despertano a política pela consciência de classe.


Enfim, agora é aguardar o lançamento da Revista “Trabalho Necessário” com o artigo completo para que possamos entender - com todas as letras - o que é o Hipnocapitalismo. .

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